1.6.20

Um relacionamento

Oito anos atrás, banco da praia, olhar feliz, coração pulsando, olho no olho, querendo tocar os lábios da outra pessoa.

Beijo, calmo, paciente. Não tem pedido de namoro, pra mim a partir desse beijo a gente já está namorando, foi o que eu disse para ela.

Dias antes, fiz aquela última ligação. Orei, disse para Deus se for para ser que seja agora, porque vai ser minha última ligação.
História bonita. Verdadeira.

Oito anos de um casal, oito anos de duas vidas.
Tempo jogado fora? Talvez.
Tempo desperdiçado? Talvez.
Dor? Muita dor. Toda dor.

Tristeza, sofrimento, como viver assim ? Como pode algo que você pensa que era ruim para você doer tanto? Não é saudade. É só dor.

O que está acontecendo aqui dentro? Eu simplesmente não saberia responder. Não tenho como.

São como ondas. Elas vão e vem. Não tenho controle sobre o meu coração. É mutável. É um motor ligado sem ignição, não dei a partida e nem posso desligar.

Parece não haver solução. Não há.

Não existe resposta certa. Tem dias que não existe dúvida alguma. Tem dias que não existe pergunta. Tem dias que sou só questionamentos. Tem dias que é sofrimento. Certeza da tristeza. O fim é o começo.

A única coisa que eu tenho certeza é que tenho que sofrer. Tenho que sofrer sozinho, tenho que sofrer no meu cantinho.

A relação acabou, ela sofreu e nunca me disse nada. Só me disse que era o fim e acabou também.

Disse que sabia que a partir daquele dia não me amava mais. Disse que eu serei um bom pai, que poderia ser pai dos filhos dela, mas agora não mais. Isso foi o que gravei da carta de despedida.

Carta guardada no meu quarto, dentro de um cofre pertencido a minha mãe.

No fim eu não sei dizer o que acabou. Se me perguntarem o porque disso eu não saberia dizer.

Hoje, repensando, eu sei que fui ruim para ela em diversos momentos.

Vejo que fui manipulador em algumas coisas.

Vejo que eu tenho desejos podres, criados por sentimentos podres e por coisas ruins que aconteceram na minha vida.

Não sei porque o desespero me faz não me abrir para ninguém.

Choro e escrevo.

É tudo triste, só há tristeza. Aqui existia amor e agora só dor.

Pensando, aquela carta de oito anos, era um presente, mas seria uma despedida?

Não tinha o que dizer, sentia que de alguma forma eu não estava ali.

Eu disse não tem problema, eu pago. Mas eu estava doído, cheio de problema, não havia nenhuma lucidez. Não era eu, parecia que fingia, sabia que era o fim, tava perto, eu podia sentir.

Como será o futuro? Eu não faço ideia. Estou com uma vontade maluca de extravasar toda essa dor em lágrimas.

Como no início eu procurei Deus. Dessa vez eu não ouvi e nem senti nada. Não pedi para ligar pela última vez, nem para mudar nada.

Ligar para ela que vontade. Está aqui como a dor insistente. Não é a solução, não tenho o que dizer.

Hoje parece que selei o fim.

Tudo acabou no mesmo lugar que começou.

Praia, agora na areia,  sentados em uma canga, olhando para o mar, abraçados e chorando. Levantei, não podia continuar ali.

Caminhei chorando até o meu destino, não sabia o que fazer.

Fiquei olhando ela de longe, ficou sentada ali mais um tempo, não sei até quando. Minha vontade de voltar era enorme, quando virei a esquina começou a chover.

Parece que o céu também chorou, acabou.




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